sábado, 8 de agosto de 2009

FAB E FX-2 - A SAGA APROXIMA-SE DO FIM


















FX-2, A saga aproxima-se do fim
Roberto Caiafa



A nova aeronave de combate da FAB (Força Aérea Brasileira) deve ser anunciada pelo Presidente Lula em setembro. Três finalistas, o sueco Gripen (compacto e o mais barato, além de possuir tecnologia de rede digital interligada on-line superior aos demais), ou o bimotor francês Dassault Rafale (muito caro, de manutenção complexa, mas bem armado e com transferência real de tecnologias, segundo seu fabricante), ou finalmente, o F-18E/F Super Hornet, o Vespão do Tio Sam (já operacional, testado em combate, com radar do tipo AESA, o APG-79, certificado, e vasto arsenal de armas e sistemas ofensivos e defensivos) disputam quem será o caça de linha de frente da FAB pelos próximos 35 anos, no mínimo.


Em termos gerais, tais caças são muito similares, descontando-se o menor peso e tamanho do Gripen, fato compensado economicamente pela única turbina e pela hora de vôo de menor custo. Todos são projetores de força, capazes de executar mais de um tipo de missão no mesmo vôo, como atacar um alvo no solo e depois montar uma patrulha aérea de combate, reabastecendo em vôo e partindo para interceptar aeronaves inimigas assim que surgirem em seus radares sofisticados e totalmente digitais.


O fato é que, mais que aviões, são armas de alta tecnologia, e a venda de tais sistemas requer habilidade tanto de quem os produz quanto de quem os compra. Não se gasta quatro bilhões de reais, aproximadamente, em algo que poderá ficar parado nos hangares e pátios de bases aéreas no primeiro embargo internacional comercial que for decretado, como já se viu no passado recente da história sul-americana, leia-se Guerra das Malvinas.


A escolha é política, por mais que se diga o contrário. As avaliações da FAB, transparentes e precisas, apenas darão molde a algo decidido em gabinetes do executivo federal, obstante o esmerado e cristalino processo de concorrência conduzido pelo COPAC, em particular, e pela FAB, como um todo. Houve evoluções, entretanto, e significativas.


Não se discute hoje a necessidade da compra, ou até mesmo a necessidade de se manter Forças Armadas, como no final dos anos 90. Uma eficaz campanha de esclarecimento, movida pela mídia do segmento de defesa e seus parceiros, na última década, possibilitou a entrada do tema nas pautas da grande imprensa, o assunto ganhando os lares de todo o Brasil. Tensões emanadas de alguns países da América do Sul também contribuíram para que se percebesse, a tempo, o quadro de obsolescência material e pessoal de nossas tropas de terra, mar e ar. Certamente, foi uma mudança notável.

ARMAS
Uma compra deste porte envolve necessidades de treinamento de equipagens de terra e de tripulações de vôo, aquisição de conhecimento de operação e de manutenção eficaz da aeronave, suporte logístico por períodos de no mínimo, cinco anos, contratados antecipadamente, e financiados nos valores finais pagos pelo governo brasileiro. E a questão mais delicada, a materialização do tão sonhado domínio dos códigos fonte do software do caça, seu cérebro eletrônico, uma quimera e ponto de honra para a FAB na escolha final.


Aviões de combate, além de estarem disponíveis e funcionais, e de requererem pessoal especializado para tanto, precisam de armas, pois sem elas são apenas baratinhas supersônicas para desfiles do dia da independência pagas pelo contribuinte. Nos últimos 15 anos, a FAB adquiriu capacidade atualizada de combate, e a compreensão dos complexos cenários de emprego dentro de um moderno ambiente digital de guerra aérea.
Mesmo que em poucas quantidades, armas como os mísseis ar-ar BVR (além do alcance visual), ou bombas guiadas a laser, como a nacional Britanite, além de pods de sensores dedicados, como o Recce Lite e o Lightning, capazes de incrementar a navegação e prover iluminação laser e IR para ataques de precisão, trouxeram a FAB para o século XXI, a toque de caixa.


Em pouco mais de dez anos aprendemos muito. Novas táticas de navegação, perfis de interceptação cooperativas usando armas BVR juntamente com aviões do tipo AEW & C, operações dentro do conceito de pacotes de ataque e mesmo participações históricas em exercícios de ponta como o Red Flag, em Nellis, Nevada, nos EUA, em 2008, sedimentaram o caminho para o próximo passo, a aquisição do novo caça de combate da FAB, uma aeronave de 4ª geração bem armada e equipada, e suportada totalmente pela manutenção fabiana, no Brasil. A ponta de lança da nossa soberania por décadas.


O caminho foi trilhado, não sem óbices, lutas e incertezas. A FAB, com rara serenidade e transparência, conduziu um programa de grande significado para o estado brasileiro. Existem forças instáveis na nossa vizinhança sul-americana que devem ser atentamente observadas, e se necessário, derrotadas rapidamente. O fim da guerrilha ideológica, em si mesmo uma mentira histórica latina, não mais justifica traficantes disfarçados de combatentes revolucionários, assim como garotos tampando a cara com trapos, com uma Uzi na mão, não convencem a sociedade brasileira das suas intenções de resistência contra a opressão econômica e social, ao comandarem as guerras dos morros e favelas das grandes cidades brasileiras em proveito do tráfico de drogas e de armas.

O conhecimento foi adquirido, e o futuro, delineado. A estrutura de treinamento da força foi modernizada com a chegada do AT-29 Super Tucano, faltando agora definir uma nova aeronave de instrução básica, substituta do T-25 Universal, da Neiva. O T-27 Tucano ainda tem alguma vida útil pela frente, e sua substituição completa pelo AT-29 se dará naturalmente, em mais 15 anos.


A modernização dos F-5 para o padrão M, e depois dos AMX A-1, ora em curso, para padrão similar, permitiu a FAB recuperar o tempo perdido e reduzir o gap tecnológico, introduzindo tecnologias como HOTAS (mão no manche e na manete), HUD (visor ao nível dos olhos), datalink (enlace de dados), radares de interceptação capazes de engajar mais de um alvo por vez, além do horizonte visual (FIAR Grifo – F, no caso do F-5M) e radares de ataque capazes de guiarem mísseis antinavio e armas stand-off em conjunto com designadores laser e câmeras FLIR (Scipio SC-01, no caso do A-1M), além de mísseis ar-ar BVR Derby e WVR Python 3.


Quanto à mentalidade dos oficiais aviadores, aqueles que viverão ou morrerão a bordo de seus aviões, um salto gigantesco foi dado em direção ao estado da arte. Conhecimento intelectual e domínio da linguagem computacional são hoje tão importantes para o aviador quanto suas habilidades psicomotoras de pilotagem e iniciativa e agressividade para o combate. Sistemas se sobressaem sobre os vetores, transformados em meras plataformas carregadoras de armas. De nada adianta poder alcançar velocidade Mach 2, por exemplo, se o avião não possuir radar AESA, perfil Stealth, capacidade datalink avançada e armamento ativo estilo “fire and forget” de longo alcance, além de sistemas defensivos inteligentes e automatizados, conjugado com grande capacidade de conectividade HF/VHF/UVHF e satcom (satélite).


As propostas encontram-se na mesa do Ministro da Defesa Nélson Jobim. A aparente predileção pelo avião francês, somada a compra de helicópteros e submarinos, parece indicar uma barbada vencida pelos gauleses. Mas não necessariamente neste caso, em particular. A visita de altos funcionários do governo Obama, e de executivos suecos, todos circulando pelos gabinetes de Brasília e pelos corredores do Palácio do Planalto, mostra que a última cartada não foi dada, ainda. O Presidente francês Nicola Sarkozi espera fechar o negócio assistindo a Patrouille de France sobrevoando Brasília no Sete de Setembro, lado a lado com Lula. Cada ator decorou seu texto, e cada jogador lançou seus dados da sorte. Depois de dez anos de muitas idas e vindas, finalmente o novo caça da FAB se tornará uma realidade.


E lá em Anápolis, no planalto central, o mais alto aeródromo do Brasil, a espera está para acabar. O F-2000, sucessor do F-103E, cumprirá até lá a nobre missão de defender o espaço aéreo brasileiro. Talvez o seu sucessor fale francês, ou venha do nórdico clima gelado ou mesmo da terra das oportunidades e dos hambúrgueres com coca cola. Alea Jacta Est*.



FOTOS: BOEING PRESS CENTER, SAAB PRESS CENTER, DASSAULT PRESS CENTER