Texto e Fotos: Roberto Caiafa
O Gripen armado com 2x Meteor + 2x Iris-T, enquanto o F-15 está armado com 2x AMRAAM + 2x Sidewinder AIM-9X. Foto: Roberto Caiafa
Quem deu esse depoimento após conhecer em detalhes um dos caças Gripen E da Força Aérea Brasileira foi o piloto Mike “Hansel” Scott, um dos pilotos norte-americanos destacados para participar da CRUZEX 2024 voando o poderoso F-15C Eagle, avião que já foi pôster dependurado na parede da maioria dos leitores com mais de 40 anos.
Estaria o norte-americano sendo "educado" ao elogiar o Gripen E de modo tão diplomático?
Absolutamente.
Trata-se de um profissional reconhecendo as qualidades de ferramentas usadas em seu ofício, que é enxergar o alvo primeiro, atirar antes que o inimigo possa fazê-lo e destruir a ameaça sem arriscar seu avião a um contra ataque.
Exatamente o poder incontestável que o F-15 Eagle possuía quando foi lançado na década de 1970 do século passado.
O produto da então McDonell Douglas era um caça pesado capaz de levar pelo menos oito mísseis, equipado com motores super potentes, radar de longo alcance e grande potência de emissão de sinais, um canhão de 20mm e manobrabilidade excepcional para combate aéreo aproximado ou Dog Fight (briga de cães).
Com a entrada em serviço do míssil BVR AMRAAM, no final dos anos de 1980, o F-15 Eagle se tornaria ainda mais letal, algo comprovado durante a 1ª Guerra do Golfo, em 1991, e posteriormente em diversos conflitos que a USAF se envolveu ao longo dos últimos 30 anos.
Um dos F-15C presentes na Cruzex 2024, armado com mísseis BVR AMRAAM e mísseis WVR Sidewinder AIM-9X. Foto: Roberto Caiafa
Gripen E e o radar AESA RAVEN ES-05
O Leonardo ES-05 Raven é um radar de varredura eletrônica ativa (AESA), formado por milhares de pequenos módulos transmissores/receptores em estado sólido, conhecidos como TRMs (Transmit/Receive Modules).
Essa tecnologia permite que o radar do tipo AESA altere rapidamente sua direção de varredura, sem necessidade de movimento mecânico completo, aumentando sua agilidade e precisão.
O Gripen E armado com mísseis BVR Meteor é um adversário letal na arena BVR. Adicionalmente, o avião pode usar o sensor IRST no nariz para detectar alvos pelo calor sem emitir e entregar a sua posição. Foto: Roberto Caiafa
Para adicionar mais capacidade de detecção em um ângulo mais aberto, incluindo visão lateral até quase o batente, o Leonardo RAVEN ES-05 usa uma tecnologia que permite sua base girar e assim aliar a varredura eletrônica ativa com o movimento mecânico, obtendo uma vantagem importantíssima em combate.
A isso chamamos de swashplate.
Embora o radar seja um AESA, ele incorpora um método completamente diferente para manter a antena apontado para o alvo.
O ES-05 literalmente gira a sua placa base dentro do nariz da aeronave para ficar sempre de frente para a ameaça.
Isso aumenta o campo de visão do gimball radar enormemente, permitindo ao Gripen E detectar um alvo frontalmente, na clássica interceptação por rota de colisão, lançar mísseis Meteor BVR e depois realizar o "crank" lateralmente, mesmo que esteja se afastando do alvo.
Isso permite ao Gripen E atualizar o MBDA Meteor que está no ar com dados precisos da localização do seu alvo durante praticamente todo o voo do míssil, o que aumenta enormemente o PK ou probability of kill.
Os mísseis MBDA Meteor aumentaram consideravelmente o envelope BVR da FAB. Quando esses caças operam apoiados pelos Echo-99, a superioridade de informação resultante determina a maioria dos resultados favoráveis em combates ar-ar além do alcance visual. Foto: Roberto Caiafa
E o avião brasileiro consegue fazer isso enquanto se afasta do alvo inimigo, perdendo altitude e manobrando (crank) para dissipar a energia do míssil inimigo que certamente foi lançado como resposta ao Meteor.
Foi exatamente isso o que aconteceu nos céus do Rio Grande do Norte, a partir da segunda semana de exercícios, quando as missões passaram para maiores níveis de dificuldade, tanto para os times Blue (defensores) quanto para os times RED (agressores).
Os pilotos norte-americanos, voando um avião bem armado e potente, foram superados por um caça muito menor em tamanho, mas dotado de tecnologias atuais, com diversos inputs de 5ª geração.
A vantagem tecnológica que o radar ES-05 confere ao pequeno caça sueco, aliado as performances do míssil Meteor, tornam o Gripen E um caça extremamente letal no combate BVR.
O piloto Gripen operando dentro dos parâmetros ideais dos seus sistemas radar x míssil decide sempre se inicia ou não o engajamento, seu combate acontecendo com ponto de lançamento a 100km do ponto calculado de impacto.
A propulsão scramjet do míssil continua gerando energia propulsora até atingir o avião inimigo, sem a necessidade de aumentar-se o tamanho e o peso do armamento para obter maiores distâncias.
Recentemente modernizados no Brasil, os Echo-99 permitem aos Gripen tirar o máximo proveito do seu próprio radar de bordo e de seus mísseis MBDA Meteor. Foto: Roberto Caiafa
Com o Embraer Echo-99 Guardião operando no circuito "a favor" dos Gripens, a superioridade da informação compartilhada é tal (via datalink) que obriga os juízes do exercício a delimitarem as performances dos caças brasileiros, permitindo que todos treinem as missões.
A Força Aérea Brasileira planejou a Cruzex 2024 como um grande teste das capacidades do Gripen E, e o exercício aconteceu em um momento onde sobravam críticos ao caça sueco e ofertas de "alternativas" de outros fabricantes.
Ao final da Cruzex 2024, ficou claro para qualquer um que a Força Aérea Brasileira tem o avião que almejava, com performances ar-ar sólidas e capacidade de se impor tecnologicamente, algo que anteriormente acontecia no sentido inverso, com os caçadores brasileiros reinventando-se frente as limitações dos caças F-5E/F e A-1 A/B modernizados que pilotavam.
Seis caças Gripen E foram enviados para Natal e operaram dentro do previsto. Foi a estreia do modelo em exercícios operacionais da FAB. Foto: Roberto Caiafa
As performances dos caças Gripen enviados a Natal apenas confirmam o que se esperava, o fabricante sueco entrega aquilo que vende apoiado por um amplo pacote de transferência tecnológica e capacitação industrial através do Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (GDDN), da SAAB SAM em São Bernardo do Campo e da linha de montagem final compartilhando instalações da EMBRAER em Gavião Peixoto.
Não foram apenas os muito bem treinados pilotos do 1º GDA que voaram esses caças Gripen em Natal.
Foram centenas de brasileiros e brasileiras que trabalham em toda a sua cadeia produtiva instalada no País nos últimos anos.
No Guts, No Glory. No Engineers, No Victory.
Durante a CRUZEX 2024, Brasil e Suécia anunciaram, após dois anos de negociações complexas, o aumento no número de caças Gripen do contrato brasileiro e a seleção do Embraer KC390 Millennium como o substituto dos C-130 Hércules da Fligvapnet. Fotos: Roberto Caiafa
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